quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

RETRATO


Eli de Castro - Retrato de Geisa
            A representação da realidade foi um tema constante na história da arte, mas isso começou a mudar na segunda metade do século XIX com o advento da fotografia. Desde então os artistas foram perdendo a exclusividade. Uma fotografia poderia ser realizada em menos tempo e de forma mais realista. Por causa disso alguns começaram a dizer que esse seria o fim da pintura, mas pelo contrário: A invenção da fotografia deu aos artistas a oportunidade de experimentar novas possibilidades. Por causa disso surge o Impressionismo, o Pós-Impressionismo e a arte Moderna.
            Apesar da arte contemporânea distanciar-se cada vez da mera representação da realidade, o realismo ainda tem a capacidade de nos envolver. Por isso o retrato se torna um tema atual.  
            O retrato sempre me causou esse encantamento e como artista, sempre procurei meios para poder representar de modo realista a figura humana. Para isso realizei inúmeros retratos. Mas gostaria de apresentar alguns que creio serem os mais significativos nessa trajetória. Esse que vocês estão vendo é o mais recente.
            Este é um retrato de um senhor que faleceu há algum tempo. O seu filho me encomendou esse retrato para homenageá-lo. Decidi mostrar para vocês as fases  de construção dessa obra explicando como faço para realizar um desenho como esse.

Eli de Castro - Retrato a Carvão

Desenho 01

            Na primeira fase do retrato eu faço uma espécie de estudo para saber como vou realizá-lo evitando alguns erros. Em seguida marco as linhas auxiliares para determinar o espaço de cada elemento da figura. Na sequencia, apago as linhas auxiliares e começo a marcar as sombras. Nessa imagem vocês estão vendo apenas o início da marcação das sombras.
Desenho 02

            Agora vocês estão vendo a marcação das sombras e a marcação do fundo. Para mim, iniciar marcando o fundo me ajuda a ver com mais clareza os tons para poder realizar o sombreamento de modo fiel.
Desenho 03

  Desenho 03

            Nesta fase aprofundo marcação das sombras realçando os tons e corrigindo alguns detalhes. Na sequencia começo a marcação do cabelo aplicando manchas em vários tons que me auxiliarão na arte final.
Desenho 04 - Detalhamento do Cabelo e Realce do Sombreamento

Retrato Finalizado
Primeiro Estudo para "Mota"

Segundo Estudo para "Mota"

Mota - Linhas auxiliares

Mota - Retrato a Carvão - Desenho Finalizado


 
Dona Silu - Linhas auxiliares

Dona Silu - Linhas auxiliares
Dona Silu - Sombreamento




segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

UM PARALELO ENTRE A ARTE RELIGIOSA DO RENASCIMENTO E A ARTE NEOPENTECOSTAL

Leonardo da Vinci
           Durante muito tempo na história da arte os temas religiosos tiveram primazia. Percorreram um longo caminho desde a idade média até o final do século XIX. E apesar das constantes mudanças do pensamento humano que influenciaram o modo de ver a religião durante esse período, essa temática ainda perdurou. Nesse espaço de tempo o merecido destaque ao Renascimento, que após a idade média influenciara por séculos o modo de ver e representar a arte por meio da religião e do apuro técnico.
            O Nome “Renascimento” se origina do termo “renascer”, que significa nascer outra vez, surgir à luz. Esse nome foi escolhido por seus contemporâneos cientes do que buscavam aprofundados em suas pesquisas baseados no período anterior da idade média que não correspondera nas descobertas científicas que abrangeram diversos campos do conhecimento humano como a arte, a filosofia, a literatura, a matemática, a medicina e demais.
            O Renascimento surgiu na Itália e desenvolveu-se entre os séculos XIV e XVI.  Suas idéias foram influenciadas por São Francisco de Assis, um religioso devoto que pregava uma nova filosofia. Afirmava que Deus se revelava na natureza, em todo ser vivo ao redor, desse modo não deveriam os homens voltar-se somente para cima ao encontro de Deus sendo Ele um ser pessoal que está o seu lado. Esse pensamento mudou radicalmente a relação entre o homem e a natureza das coisas. A aproximação de Deus com os humanos fez com que olhassem a sua volta e conseqüentemente para si mesmo como um receptor divino podendo encontrar individualmente as respostas para questões esclarecidas somente pela igreja.


           Anteriormente a arte era impessoal e dominada por rígidas convenções, como vocês vão perceber observando essa obra que conta a história de São Francisco de Assis. Os santos e os seres divinos eram representados com um olhar distante em direção ao vazio remetendo a visão espiritual acima dos atrativos terrenos; não era importante a verossimilhança de alguns personagens representados, pois os símbolos que os envolviam eram considerados suficientes para indicá-los; a altura dos mesmos era escolhida tendo em vista sua importância no círculo religioso e sua localização nas obras também atestava este fato. Mas a partir do Renascimento as formas se tornaram mais naturais e a realidade passou a ser representada. Para tanto foram necessários anos debruçados em pesquisa para que os artistas alcançassem o domínio técnico que almejavam baseados na escultura e literatura romana. O artista do Renascimento deveria ser iniciado nas mais diversas áreas do saber, sendo que, para representar a realidade exatamente como ela surge à vista, lhe era exigido que entendesse a natureza das coisas. Assim, o conhecimento sobre a luz se tornava indispensável para a representação das sombras e das cores, o conhecimento da perspectiva possibilitando ao artista criar a ilusão de profundidade no espaço, o conhecimento geométrico e matemático para representar com precisão as formas, entre outros. Para isso buscaram sua inspiração no molde greco-romano de beleza, que de igual modo requeria apuro e requinte.
            Apesar dos renascentistas viverem uma nova fase na história da arte, os temas religiosos não se desvencilharam pelo distanciamento do medievo, pois grande parte dos pedidos aos artistas partiam dos clérigos direcionados a igreja, dessa forma os temas eram predominantemente religiosos. Mas outros temas eram representados incluindo os mitológicos devido aos mecenas e outras personalidades da alta classe que faziam encomendas para sua coleção pessoal.
            Com o passar dos séculos a representação fiel da realidade foi questionada e discutida de diversas formas e, gradativamente foi sendo superada tornando-se em muitos casos obsoleta. Isso também diz respeito aos temas religiosos que aos poucos cederam lugar a um novo conjunto de temas refletindo o ecleticismo e o ceticismo destituindo a religião de seu posto por muito tempo conquistado.
            Hoje existem inúmeros grupos e facções com pensamentos independentes restringindo a possibilidade de uma verdade absoluta superada pela idéia de que tudo depende de um modo particular de ver as coisas. A religião e a arte inseridas nesse quadro também se diversificam, mas revelam particularidades que dialogam com o Renascimento. Os cristãos ainda preservam em sua doutrina preceitos desse período que se moldaram segundo a ideologia de grupos distintos de católicos e protestantes. No caso da arte contemporânea, ela busca novos espaços e materiais não usuais para distanciar-se dos métodos tradicionais de uma arte superada rejeitando a mera representação da realidade não optando essencialmente pelo apuro técnico, mas pelo valor da idéia que deve dialogar com o observador da obra, contudo o domínio técnico de modo resistente ainda dita o nosso senso de valor sutilmente arraigado numa maneira renascentista de ver as coisas influenciando não somente o senso crítico dos não iniciados.
No Renascimento as obras que representavam temas religiosos eram carregadas de realismo e apuro técnico, contudo minha obra procura dialogar com o apuro técnico e a imperfeição refletindo o anseio neopentecostal pela plenitude do espírito através de expressões temáticas e técnicas relevantes a contemporaneidade, seguindo uma forma particular de ver as coisas libertando-me da expressão religiosa renascentista envolvida por convenções técnicas e eclesiásticas a procura de representações não ilustrativas de temas bíblicos.

Hematidrose 

Conexão com Outros Artistas

            A pintura e escultura de Miguelangelo, sobre tudo no final de sua carreira, serviram como grande fonte de inspiração para os meus desenhos, justamente pelo diálogo com a expressão técnica e a desconstrução das formas, como podemos notar claramente nas pinturas do teto da Capela Cistina onde figuras exageradamente volumosas e desproporcionais nos brindam com a revelação consciente de um gênio criando um paralelo entre o Renascimento e o Maneirismo. Em algumas de suas esculturas nota-se o profundo conhecimento da anatomia humana estilizado em figuras inacabadas aparentando intenso desejo de libertação do mármore.

Michelangelo - Obra Renascentista


Com as marcas grosseiras dos cinzéis e do trabalho interrompido em pleno andamento parece que as figuras estão brotando de dentro do blocos de mármore.


El Greco - Obra Maneirista

              Um diálogo bastante evidente e correlato se dá também entre a minha obra e a de Renato Guttuso, um dos maiores expoentes da arte italiana do século XX, no sentido de seu desprendimento com a representação puramente figurativa. Apesar de sua formação acadêmica seguindo os métodos tradicionais ele não se restringiu apenas ao realismo. Em algumas de suas obras se pode notar um grande distanciamento das convenções acadêmicas com tamanha liberdade e espontaneidade que poucos ousariam empregar. Em seus desenhos e pinturas identificam-se características próprias do esboço por meio de traços despreocupados e imediatos onde a técnica dialoga com o impreciso.

Renato Guttuso


         Na obra do artista plástico Adalberto Alves esta conexão continua por levantar questões relevantes ao ser humano nos dias atuais discutindo sobre corpo e suas diversas implicações como a fragilidade e a efemeridade por meio de inquietações pessoais, onde o desenho livre de convenções e a forma seriada de apresentação das obras expressam tais pensamentos.

                                                                           Adalberto Alves