Quando falei a respeito da criação do poema "Janela Poente" abordei a questão da inspiração falando pra vocês que existem dois tipos de inspiração: a espontânea e a induzida. Só relembrando: a espontânea é aquela que surge naturalmente, já a induzida é aquela necessita de alguns mecanismos para que possamos entrar nesse estado. Isso pode levar mais tempo no processo para a conclusão de uma obra.
Nesse poema: "Anjo do Amor", tudo surgiu espontâneamente, apesar de sua complexidade em relação a métrica, a organização dos versos e a rima. Foi como se alguém tivesse ditado pra mim.
Geralmente quando escrevo um poema eu não costumo julgar minhas ideias. Escrevo tudo que vem a minha mente para preservar a verdade interior, em seguida guardo o que escrevi e deixo hibernar. Depois de certo tempo eu abro minha gaveta e vou ler o que fiz. Isso vai me ajudar a perceber se o que escrevi de fato é relevante, se não for eu descarto ou altero algumas partes preservando o que tenha ficado bom, também guardo o que escrevi preservando algumas ideias, frases ou versos que eu possa utilizar no futuro. Tudo serve como uma espécie de arquivo para trabalhos posteriores.
O poema Anjo do Amor nasceu assim: certo dia eu tive uma inspiração. Na minha mente vieram alguns versos e eu escrevi imediatamente sem julgá-los. Esses versos surgiram de forma clara unidos a uma reflexão mais atenta e aprofundada através de um senso maior das coisas. Pouco depois de concluir eu guardei o que havia escrito para não ser enganado por uma opinião pessoal positiva baseada em um encantamento efêmero. Depois de algum tempo, ao rever a poesia, percebi que ela estava praticamente pronta, tendo que realizar poucas alterações.
Desde a infância o desenho me motivava a expressões peculiares as devidas fases deste período assim como a qualquer outra criança, contudo um senso maior sobre estas ações artísticas era perceptível. Paralelo a isto, recordo-me de uma lembrança muito vívida apesar de minha idade na época. Lembro de estar caminhando pela sala de aula da escola particular de meu pai indo ao encontro de uma mesa sobre a qual estava um caderno. Lembro-me de ter conseguido pegar esse caderno e com uma caneta tentado em vão escrever algo ali. Ao reviver essa cena em minha mente pareço estar sentindo a mesma sensação de impotência diante do papel em branco naquele dia, sentindo um impulso irresistível para escrever alguma coisa, mas em vão, pois eu ainda não sabia ler nem escrever, talvez um desejo de expressão.
Alguns anos mais tarde, recordo-me também de certo senso crítico em relação ao que realizava incomum para um indivíduo de pouca idade e uma sensibilidade especial para a observação da natureza. Em destaque há uma lembrança de uma longa viagem para a casa dos meus avós com os meus pais, onde as cores do céu num pôr-do-sol e a volumetria das nuvens vistas da janela de um carro causaram-me fortes sensações de admiração e beleza que só os anos e os estudos sobre percepção visual puderam traduzir. Outro episódio interessante diz respeito a descoberta anatômica da cabeça humana. Eu desenhava um crânio truncado da figura de perfil,
Exemplo de crânio truncado - Representa o achatamento da parte de trás do crânio ao desenhar a cabeça humana, muito comum entre os principiantes do desenho por não perceberem que existe um alargamento da cabeça.
em seguida desenhava uma orelha como se esta estivesse colada em sua nuca trazendo a aparência uma cabeça composta apenas de testa. Até que certa vez notei em uma história em quadrinhos um personagem careca descobrindo naquele dia que a anatomia da cabeça não era exatamente como imaginava, desde então prossegui pondo em prática tal descoberta. Em outro momento, percebendo que minha representação dos elementos geométricos em perspectiva não correspondia com a minha percepção visual dos elementos naturais, indagava-me de como poderia fazê-lo, então, assistindo um programa de televisão e vendo alguém desenhando um dado descobri como representar as formas em perspectiva.
Incontáveis desenhos e histórias em quadrinhos eram realizados incentivados pela oferta gratuita de papeis, lápis de cor e giz de cera feita por minha mãe. Nesse processo livros e ilustrações eram rabiscados guiados por uma imaginação inquieta e um desejo compulsivo de expressão e descoberta das formas ao redor. Paralelo a isso surgia em mim um desejo de me expressar através da escrita também, um desejo infantil desconhecido ainda incitando-me a escrever poemas. Mas eu nunca havia escrito nada que pudesse considerar um poema. Lembro-mo da criação de livros contanbdo histórias sobre os mais variados assuntos. Com o tempo esse desejo de escrever foi crescendo. Tenho outra lembrança muito vívida de estar brincando com outras crianças, correndo pela rua e num momento, como se escutasse uma voz na minha cabeça me dizendo: escreve, como numa espécie de impulso movido por uma inspiração. Depois de algum tempo comecei a escrever minhas primeiras poesias.
Partindo para a questão do desenho, comumente, após os dez anos de idade, a criança tende ao abandono do desenho devido a um senso crítico mais apurado pela percepção das formas no em torno em comparação ao pretenso desenho realista que não acompanhou o desenvolvimento técnico equivalente as novas percepções visuais que exigem a expressão da realidade, contudo, mesmo insatisfeito com o nível técnico que alcançara eu prossegui em minhas experimentações. Com o tempo fui descobrindo novas regras por meio da cópia, e durante esse processo, tendo essa aptidão descoberta, era sempre requisitado para novos tipos de desenhos e desafios. Tendo uma educação religiosa rodeado por livros ilustrados com temas bíblicos fui influenciado a realizar minhas próprias ilustrações representando histórias e relatos da Bíblia. Nesse período comecei a escrever textos para programações da igreja e compor meus primeiros poemas que refletiam mais amadurecimento. Mas esses textos ficavam reclusos, poucos os conheciam. Em minhas lembranças recordo-me ter tê-los mostrados inicialmente a um amigo (Daniel Santana) que demonstrou certa apreciação, sempre requisitando novos textos para ler.
Em relação ao desenho, lembro-me que ao buscar um tema para criação as imagens de Cristo sempre me eram recorrentes. Seu sofrimento e morte, seus milagres e seu rosto sempre eram retratados por mim nessas ocasiões. Por estar inserido nesse meio, realizei vários cartazes para eventos e programações religiosas na igreja. Como não tinha familiaridade com as cores o desenho sempre ocupava o primeiro lugar em minhas representações. Assim fui me tornando cada vez mais exigente com o que desenhava e decidi fazer um curso de desenho a distância, o que me proporcionou resultados positivos.
Já no ensino médio, comecei a mostrar meus poemas para uma prima (Marline) que nesse período estudava Letras na UNEB em Jacobina. Suas críticas sinceras, suas informações a respeito de poesia e poetas serviram de base para que eu tivesse mais liberdade para escrever e me deu mais amadurecimento. Nesse tempo algo significativo aconteceu: a vinda de um novo professor (Antenor Rita Gomes) de Literatura para o colégio onde estudava. Recordo-me de sua paixão pela literatura, isso me contagiava. Foi ele a primeira pessoa que eu vi recitando um poema. Senti um certo encantamento que me incentivou a escrever e me fez levar a sério os meus textos, assim prossegui nessa busca até mesmo depois de concluir o ensino médio.
Nessa época descobri certa afinidade para o retrato e realizei diversas encomendas, por isso exigia de mim mais conhecimento técnico, então prossegui buscando alcançar resultados mais realistas. Tive então a oportunidade de morar uma temporada em Porto Seguro onde realizei um curso de desenho e tive meus primeiros contatos com artistas e galerias de arte, dessa maneira fui motivado a ingressar na academia de artes da Universidade Federal da Bahia, UFBA, onde expandi meus conhecimentos técnicos, explorei minha criatividade e reflexão conduzindo-me a realizar uma pesquisa em desenho sendo esta forma de expressão artística de maior afinidade para mim decidindo interagir com minhas influências religiosas. Nesse período da faculdade conheci Uzeda que me incentivou a escrever literatura de cordel. Mais informações sobre a influencia religiosa em minha obra e a produção do meu primeiro cordel vocês encontram em minhas ultimas postagens.
Eli de Castro - Museu da Língua Portuguesa - São Paulo
Quando o sol se esconde no infinito A imensidão me faz recordar Das tardes douradas do céu bonito Do meu distante e querido lar
Recordo do azul banhado de luz E toda amplidão do seu firmamento Da paz celeste que ele traduz Me fazendo voltar por um breve momento
Relembro silente do céu de algodão Das nuvens dançando ao som da tarde Repletas de cor em total profusão E a luz se rendendo a sombra que invade
Do seu transluzir que acalma a tardinha E o vento sereno que a faz repousar Das ultimas aves que o céu detinha E o toque suave de folhas no ar
Do espaço seleto de Deus o Senhor Pintando as planícies da cor do sol Dos campos repletos de todo verdor Dourando luzentes no belo arrebol
Do claro fulgor aquecendo a visão Dos olhos estreitos que buscam o ocaso Das tardes vibrantes em gradação Do sol reluzente que não por acaso
Me leva a você da janela poente Aquecendo-me a luz do distante arrebol Tocando-me em verso o meu ocidente Vez em quando a saudade é pôr-do-sol.
CRIAÇÃO DO POEMA JANELA POENTE
No meu processo de criação existe algo extremamente necessário: A Inspiração. Não dá pra criar quando eu quero e sim quando a obra quer surgir. Deixando esse papo filosófico de lado, eu só crio quando estou inspirado. Mas o que significa estar inspirado, ou melhor, o que é inspiração?
Vamos analisar um pouco o significado disso. De início, pra facilitar, vamos lembrar do nosso mecanismo de respiração. Existe a inspiração e a espiração. Inspirar é quando você trás o ar para dentro dos seus pulmões e espiração seria quando expelimos esse ar, ou seja, seria o contrário. Mas o que isso tem a ver com a criação artística? Nada, mas dá para criar um paralelo. Inspiração é algo parecido, é trazer para dentro, seria então quando um indivíduo está num estado mais sensível de reflexão e percebe de modo diferenciado o mundo a sua volta, como se sua percepção fosse algum tipo de antena que capta e trás para dentro de si um turbilhão de ideias desconexas que em breve se organizarão e logo traduzirão um sentimento ou pensamento através de uma obra de arte. Sabe aquela coisa do desenho animado de aparecer uma luzinha sobre a cabeça do personagem quando ele tem uma ideia?... é por aí. Mas isso seria o que eu chamo de inspiração espontânea. Mas inspiração tem nome? Existe só esse tipo de inspiração?
Penso que existem dois tipo de inspiração: INSPIRAÇÃO ESPONTÂNEA e INSPIRAÇÃO INDUZIDA. A espontânea seria aquela que surge naturalmente e a inspiração induzida seria quando o artista precisa acionar alguns mecanismos para que ela apareça. Por exemplo: digamos que alguém me peça para escrever um poema sobre um tema específico, então porque eu preciso escrever vou procurar um meio mais suscetível para que a inspiração possa surgir, já que ela nem sempre cai do céu. Então tenho que utilizar algumas ferramentas que me sensibilizem. Para isso não existem regras, é uma busca. Talvez eu posso ouvir uma música que me toque vendo determinadas fotografias, me recordando de uma frase que alguém me disse, lendo meus poemas preferidos tomado uma xícara de xá sozinho em silêncio, quem sabe depois deitado no chão, na cama, etc, etc... você tem que criar condições pra que a inspiração possa surgir e te dar uma ideia, isso a gente só aprende com o tempo, experimentando. Só com o tempo você vai descobrir a melhor forma de conseguir isso, de se conhecer. Por exemplo: descobri que viajando de carro ou de ônibus e olhando para as paisagens pela janela fico mais suscetível para estar nesse estado. Muitos pensamentos e sensações surgem pela inercia e o silêncio. Por causa disso ando sempre com um papel ou bloco de notas e uma caneta em mãos, porque a inspiração não tem hora pra chegar e quando ela surge ou você registra ou perde, pois existem determinadas particularidades na inspiração que você não pode deixar pra depois, por exemplo: alguém pode pensar: ah, vou lembrar disso mais tarde. Tem certas ideias que estão intimamente atreladas a sensações e é isso que temos que entender. Sem as sensações, quase sempre, elas desaparecem ou perdem o significado. De igual modo, o processo de criação deve estar intimamente ligado as emoções do artista, pois sem esse envolvimento emocional o poema ou a obra de arte não terá verdade, será fria e mecânica, o que não tem nada a ver com arte. Se alguém me perguntasse quando eu sei que um poema que escrevo está bom, eu diria: Quando ele me emociona. Escrever deve ser exatamente isso, criar deve ser exatamente isso: Libertar-se da emoção. Bem, mesmo se todo esse processo não funcionar, não devemos nos preocupar por que se continuarmos pensando sobre o assunto em todo tempo, quando andamos na rua, quando fazemos compras, conversando com um amigo, simplesmente pensando, sem aquele senso de cobrança de que algo precisa ser realizado, cedo ou tarde uma ideia irá surgir.
Outra coisa que ajuda bastante nesse processo de INSPIRAÇÃO INDUZIDA é o uso dos cinco sentidos: VISÃO, TATO, AUDIÇÃO, OLFATO e PALADAR. Pense a respeito do tema que você quer falar, toque coisas enquanto isso, experimente, sinta gostos, prove determinadas coisas e pense a respeito do sabor sentindo os cheiros do ambiente, sinta cheiros que lhe remetam ao passado, ouça os sons a sua volta: os pássaros, o vento, folhas sendo embaladas pelo vento, veja, olhe imagens, veja detalhes que você nunca viu, procure perceber o esquecido, ou mesmo se feche em completa escuridão por um determinado tempo. Se não der certo num ambiente fechado, procure sair, tenha experiências reais, se envolva com elas sem uma visão racional, veja a vida como se você estivesse dentro de um clip musical, saia da forma convencional de ver as coisas, tudo isso irá aguçar seus sentidos e lhe garanto que alimentará sua sensibilidade lhe proporcionando ótimas ideias para a produção artística. Essas técnicas são muitos boas para a criação de poemas, mas também para as artes visuais, porém existem outros mecanismos específicos para as artes visuais de que falarei em outra oportunidade.
Para entendermos de modo prático tudo isso, vou falar como foi a criação de um dos meus poemas no qual estiveram envolvidas essas duas facetas da inspiração de que acabei de falar.
Vamos começar do inicio. Em 2005 eu saí de minha cidade de origem (Quixabeira) para estudar Artes Plásticas em Salvador. Por isso morei por lá durante quatro anos e meio. É natural que mudanças assim provoquem certos sentimentos e emoções. Um desses sentimentos é a saudade. Algo muito comum nessas circunstâncias. Sendo assim, já no meu ultimo semestre, eu estava em casa, no meu quarto, quando olhei pela janela, já no fim da tarde, e vi o pôr-do-sol. Naquele momento eu estava sentindo falta da vida simples que eu tinha em Quixabeira e percebi também que estava vendo o pôr-do-sol por uma janela com grades e que ele estava sufocado entre as dezenas de prédios ao longe e tudo isso me fez pensar em uma prisão, que a saudade era uma prisão e que no pôr-do-sol de Quixabeira traduzia liberdade, sem prédios para ofuscar o brilho, sem grades para me aprisionar nesse sentimento, então uma frase surgiu de modo espontâneo: SAUDADE É PÔR-DO-SOL. Somente essa frase surgiu espontaneamente, o restante do poema eu tive que procurar um meio de me sensibilizar para que a inspiração retornasse. Isso durou alguns dias.
A primeira coisa que fiz foi observar um arquivo de fotografias de Quixabeira, só que eu me concentrava apenas no céu e nas imagens em que o pôr-do-sol era evidente. Prestando atenção as cores, as nuvens, relembrando situações em minha vida que havia alguma relação com o tema, coisas que já havia falado a respeito, também comparando o céu que eu costumava ver em Salvador com o céu de Quixabeira e as palavras aos poucos foram surgindo, surgindo a inspiração, os versos, as rimas. Mas como meu vocabulário ainda se mostrava rasoável para a profundidade que eu gostaria de exprimir, profundidade que para mim traduzia a saudade, comecei a pesquisar mais sinônimos para o pôr-do-sol e tudo foi surgindo naturalmente, com a singeleza, beleza, profundidade, preciosismo, sentimento e paixão que eu gostaria de expressar.
E logo ao fim, examinando tudo que eu sentia, creio que consegui descrever exatamente o que me envolvia e me arrebatou em devaneio aquela tarde em Salvador quando olhei pela janela.
Você percebeu que alguém que escreve de forma artística não pode descrever as coisas como uma pessoa comum? É necessário encontrar um modo diferenciado e original para se expressar. Por exemplo: alguém pode pedir pra que você descreva a saudade. A pessoa comum irá dizer que saudade é sentir falta de alguma coisa ou de alguém. Isso todo mundo pode dizer, mas como um artista pode falar sobre a saudade de modo original? Foi o que procurei realizar: falar da saudade através de uma visão particular. É dessa forma que pensaremos de modo diferenciado sobre determinado assunto e que novas ideias irão surgir a respeito dele, é desse modo que surge a reflexão e o íntimo do humano é alimentado e apaziguado pela beleza que só a arte pode proporcionar e traduzir.
Na noite de 28 de Julho de 2011, no STTR (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais) na cidade de Quixabeira, Bahia, a 300 Km de Salvador, ocorreu o lançamento do meu primeiro cordel "A Biata e o Ateu". Esse evento também marcou o lançamento de um projeto cultural na cidade de Quixabeira que tem como objetivo valorizar, incentivar e fortalecer a cultura popular do Município.
Essa ideia teve início em 2006, enquanto eu cursava o segundo ano do curso de Artes Plásticas, na Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Nesse período eu conheci um grupo de pessoas que tinham um objetivo em comum: O de incentivar e fortalecer a cultura em seus lugares de origem. Nossa primeira ação foi em Quixabeira em Junho de 2006, quando realizamos uma exposição coletiva de desenhos, pinturas, com palestras, entrevistas, oficinas de modelagem, desenho, pintura e um evento cultural que envolvia música e apresentações folclóricas. Em Dezembro do mesmo ano estivemos na Cidade de Vitória da Conquista, Bahia, realizando o mesmo projeto cultural.
Em nosso processo de ensino-aprendizagem havia o que nós chamávamos de RotAtividade, uma troca de conhecimentos entre a arte acadêmica e a cultura popular, deste princípio surgiu o nome do grupo: RotAtiva, definido por um de seus membros conhecido como Uzeda. E a realização desse evento cultural em Quixabeira nada mais é do que um legado desse jovem. Ele sabia da minha afinidade com a poesia e como era um apaixonado pela literatura de cordel, acabou me inspirando a escrever A Biata e o Ateu. Mas quem foi Uzeda, ou melhor: Antônio Luiz Uzeda de Oliveira Junior?
Estudante de Artes Plásticas, desenhista, pintor, escultor e artista gráfico. Tinha estatura mediana, era forte e tinha cara de bravo, mas na verdade ele era um homem bom, simples e doce. Uma das poucas pessoas com quem se pode falar sobre poesia. Como eu havia dito, ele sabia da minha afinidade com a poesia e como era apaixonado pelo Nordeste e por literatura de cordel, sempre me incentivava a conhecer mais sobre o assunto para escrever um cordel. E como era ateu e namorava uma garota católica (Adriana Fernandes, A Biata), eu costumava a brincar dizendo que a história dele daria um cordel, e que se chamaria A Biata e o Ateu. Sempre falava isso, mas nunca escrevi nada a respeito. Na verdade ele queria que eu escrevesse sobre algo que tivesse relação com o grupo RotAtiva. Mas eu falava pra ele que pra escrever eu precisava de conhecimento e inspiração, que teria de vir acompanhado de algo pra me inspirar, então, com o maior sacrifício do mundo ele me emprestou alguns de seus cordéis mais valiosos pra que lendo eu me inspirasse. E funcionou. Assim eu escrevi a primeira parte do que seria esse cordel falando sobre o grupo RotAtiva:
Cultivei um desejo
Dentro do meu coração
De levar pro sertanejo
A arte, o belo, a inspiração
Lhe ensinando o que eu aprendo
E do mesmo recebendo
O seu saber em comunhão
E hoje o sonho é realidade
Pois agora incentivo a cultura
Movimentando a comunidade
Permitindo a geração futura
Auto conhecimento, identidade
Através da sensibilidade
Do lazer e da ternura.
Mas esse cordel parou por aí, porém, por algum motivo a história A Biata e o Ateu começou a germinar, mas eu ainda não havia escrito nada.
Bem, nesse período algo aconteceu. Uzeda começou a se queixar de algumas dores e fazendo alguns exames ele descobriu que estava com câncer. Essa notícia nos assustou um pouco, mas quando vimos a confiança que Uzeda transmitia, nós nos tranquilizamos e acreditamos que tudo sairia bem.
Depois de alguns meses Uzeda saiu do hospital e voltou pra faculdade cheio de planos. Ele sempre foi uma cara cheio de planos. Em nossas conversas particulares sobre arte e poesia ele costumava me falar sobre um plano simples pra sua velhice. Ter um computador de ultima geração e ficar jogando vídeo game o resto da vida.
Mas então o câncer voltou. Depois da notícia eu fui visitá-lo, mas os seus olhos já não transmitiam a mesma confiança.Quando voltei de Salvador eu não conseguia pensar em outra coisa. Ficava imaginando o que eu poderia fazer pra animá-lo pra ver dinovo aquela mesma confiança que ele transmitia. Foi então que eu lembrei do cordel esquecido... e resolvi que depois que eu voltasse de Salvador e estivesse em Quixabeira, me dedicaria a escrever o cordel A Biata e o Ateu e assim que eu voltasse a Salvador eu o presentearia com esse folheto, que além de ser um presente seria uma homenagem. Então quando eu cheguei em Quixabeira me confinei no meu quarto dedicando-me apenas a escrever. Pouco tempo depois eu havia terminado o cordel. Foi quando recebi a notícia de que Uzeda havia falecido. Infelizmente ele não pode receber esse presente, mas naquela noite de 28 de Julho todos nós fomos presenteados por seu legado.
MOMENTOS QUE ANTECEDERAM A PROGRAMAÇÃO
BARRACA DE CORDEL
ZUMAR SÉRIGIO, CORDELISTA E ARTISTA POPULAR DE SENHOR DO BONFIM
STTR LOTADO
APRESENTADORAS MARLINE E ELIENAY
ELIENAY E MARLINE
DALBERTO LIMA, POETA E COMPOSITOR DE QUIXABEIRA
ABERTURA - CANTANDO O HINO NACIONAL E O HINO DE QUIXABEIRA (COMPOSIÇÃO DE DALBERTO LIMA)
HOMENAGEM DO GRUPO MULHERES DE RODA DE QUIXABEIRA A ELI DE CASTRO E SUA MÃE JOZENITA (NITA)
ELI DE CASTRO E SUA MÃE
APRESENTAÇÃO DO GRUPO MULHERES DE RODA DE QUIXABEIRA
PROFESSOR ISMAEL RECITANDO UM POEMA
EDUCADORA CLAUDIA INTERPRETANDO SÚPLICA CEARENSE DE LUIZ GONZAGA
APRESENTAÇÃO DE ZUMAR SÉRGIO RECITANDO UM CORDEL
SANFONEIRO ANTUZO DO TRIO JACOBINA - SOLO INSTRUMENTAL DE ASA BRANCA
APRESENTAÇÃO DE ELI DE CASTRO
ANIMAÇÃO DO CORDEL A BIATA E O ATEU
HOMENAGEM A UZEDA
GRUPO CORDEL CANTADO DE QUIXABEIRA CANTANDO A VIDA DO VIAJANTE EM HOMENAGEM A UZEDA E AO GRUPO RotAtiva
GRUPO CORDEL CANTADO
VALDO E GIL - VALDO - ILUMINAÇÃO - GIL - CENOGRAFIA
ELI DE CASTRO E ADRIANA FERNANDES (A BIATA)
ADRIANA FERNANDES, MEU IRMÃO ÉDEN DE CASTRO, MINHA MÃE NITA