sábado, 17 de dezembro de 2011

MINHA HISTÓRIA COMO ARTISTA


 Desenho antigo
            Desde a infância o desenho me motivava a expressões peculiares as devidas fases deste período assim como a qualquer outra criança, contudo um senso maior sobre estas ações artísticas era perceptível. Paralelo a isto, recordo-me de uma lembrança  muito vívida apesar de minha idade na época. Lembro de estar caminhando pela sala de aula da escola particular de meu pai indo ao encontro de uma mesa sobre a qual estava um caderno. Lembro-me de ter conseguido pegar esse caderno e com uma caneta tentado em vão escrever algo ali. Ao reviver essa cena em minha mente pareço estar  sentindo a mesma sensação de impotência diante do papel em branco naquele dia, sentindo um impulso irresistível para escrever alguma coisa, mas em vão, pois eu ainda não sabia ler nem escrever, talvez um desejo de expressão.
            Alguns anos mais tarde, recordo-me também de certo senso crítico em relação ao que realizava incomum para um indivíduo de pouca idade e uma sensibilidade especial para a observação da natureza. Em destaque há uma lembrança de uma longa viagem para a casa dos meus avós com os meus pais, onde as cores do céu num pôr-do-sol e a volumetria das nuvens vistas da janela de um carro causaram-me fortes sensações de admiração e beleza que só os anos e os estudos sobre percepção visual puderam traduzir. Outro episódio interessante diz respeito a descoberta anatômica da cabeça humana. Eu desenhava um crânio truncado da figura de perfil,
 Exemplo de crânio truncado - Representa o achatamento da parte de trás do crânio ao desenhar a cabeça humana, muito comum entre os principiantes do desenho por não perceberem que existe um alargamento da cabeça. 

em seguida desenhava uma orelha como se esta estivesse colada em sua nuca trazendo a aparência uma cabeça composta apenas de testa. Até que certa vez notei em uma história em quadrinhos um personagem careca descobrindo naquele dia que a anatomia da cabeça não era exatamente como imaginava, desde então prossegui pondo em prática tal descoberta. Em outro momento, percebendo que minha representação dos elementos geométricos em perspectiva não correspondia com a minha percepção visual dos elementos naturais, indagava-me de como poderia fazê-lo, então, assistindo um programa de televisão e vendo alguém desenhando um dado descobri como representar as formas em perspectiva.
            Incontáveis desenhos e histórias em quadrinhos eram realizados incentivados pela oferta gratuita de papeis, lápis de cor e giz de cera feita por minha mãe. Nesse processo livros e ilustrações eram rabiscados guiados por uma imaginação inquieta e um desejo compulsivo de expressão e descoberta das formas ao redor. Paralelo a isso surgia em mim um desejo de me expressar através da escrita também, um desejo infantil desconhecido ainda incitando-me a escrever poemas. Mas eu nunca havia escrito nada que pudesse considerar um poema. Lembro-mo da criação de livros contanbdo histórias sobre os mais variados assuntos. Com o tempo esse desejo de escrever foi crescendo. Tenho outra lembrança muito vívida de estar brincando com outras crianças, correndo pela rua e num momento, como se escutasse uma voz na minha cabeça me dizendo: escreve, como numa espécie de impulso movido por uma inspiração. Depois de algum tempo comecei a escrever minhas primeiras poesias.
             Partindo para a questão do desenho, comumente, após os dez anos de idade, a criança tende ao abandono do desenho devido a um senso crítico mais apurado pela percepção das formas no em torno em comparação ao pretenso desenho realista que não acompanhou o desenvolvimento técnico equivalente as novas percepções visuais que exigem a expressão da realidade, contudo, mesmo insatisfeito com o nível técnico que alcançara eu prossegui em minhas experimentações. Com o tempo fui descobrindo novas regras por meio da cópia, e durante esse processo, tendo essa aptidão descoberta, era sempre requisitado para novos tipos de desenhos e desafios. Tendo uma educação religiosa rodeado por livros ilustrados com temas bíblicos fui influenciado a realizar minhas próprias ilustrações representando histórias e relatos da Bíblia.  Nesse período comecei a escrever textos para programações da igreja e compor meus primeiros poemas que refletiam mais amadurecimento. Mas esses textos ficavam reclusos, poucos os conheciam. Em minhas lembranças recordo-me ter tê-los mostrados inicialmente a um amigo (Daniel Santana) que demonstrou certa apreciação, sempre requisitando novos textos para ler.
               Em relação ao desenho, lembro-me que ao buscar um tema para criação as imagens de Cristo sempre me eram recorrentes. Seu sofrimento e morte, seus milagres e seu rosto sempre eram retratados por mim nessas ocasiões. Por estar inserido nesse meio, realizei vários cartazes para eventos e programações religiosas na igreja. Como não tinha familiaridade com as cores o desenho sempre ocupava o primeiro lugar em minhas representações. Assim fui me tornando cada vez mais exigente com o que desenhava e decidi fazer um curso de desenho a distância, o que me proporcionou resultados positivos. 
                 Já no ensino médio, comecei a mostrar meus poemas para uma prima (Marline)  que nesse período estudava Letras na UNEB em Jacobina. Suas críticas sinceras, suas informações a respeito de poesia e poetas serviram de base para que eu tivesse mais liberdade para escrever e me deu mais amadurecimento. Nesse tempo algo significativo aconteceu: a vinda de um novo professor (Antenor Rita Gomes) de Literatura para o colégio onde estudava. Recordo-me de sua paixão pela literatura, isso me contagiava. Foi ele a primeira pessoa que eu vi recitando um poema. Senti um certo encantamento que me incentivou a escrever  e me fez  levar a sério os meus textos, assim prossegui nessa busca até mesmo depois de concluir o ensino médio.
                    Nessa época descobri certa afinidade para o retrato e realizei diversas encomendas, por isso exigia de mim mais conhecimento técnico, então prossegui  buscando alcançar resultados mais realistas. Tive então a oportunidade de morar uma temporada em Porto Seguro onde realizei um curso de desenho e tive meus primeiros contatos com artistas e galerias de arte, dessa maneira fui motivado a ingressar na academia de artes da Universidade Federal da Bahia, UFBA, onde expandi meus conhecimentos técnicos, explorei minha criatividade e reflexão conduzindo-me a realizar uma pesquisa em desenho sendo esta forma de expressão artística de maior afinidade para mim decidindo interagir com minhas influências religiosas. Nesse período da faculdade conheci Uzeda que me incentivou a escrever literatura de cordel. Mais informações sobre a influencia religiosa em minha obra  e a produção do meu primeiro cordel vocês encontram em minhas ultimas postagens.

Eli de Castro - Museu  da Língua Portuguesa - São Paulo





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