domingo, 11 de dezembro de 2011

JANELA POENTE

Quando o sol se esconde no infinito
A imensidão me faz recordar
Das tardes douradas do céu bonito
Do meu distante e querido lar

Recordo do azul banhado de luz
E toda amplidão do seu firmamento
Da paz celeste que ele traduz
Me fazendo voltar por um breve momento

Relembro silente do céu de algodão
Das nuvens dançando ao som da tarde
Repletas de cor em total profusão
E a luz se rendendo a sombra que invade

Do seu transluzir que acalma a tardinha
E o vento sereno que a faz repousar
Das ultimas aves que o céu detinha
E o toque suave de folhas no ar

Do espaço seleto de Deus o Senhor
Pintando as planícies da cor do sol
Dos campos repletos de todo verdor
Dourando luzentes no belo arrebol

Do claro fulgor aquecendo a visão
Dos olhos estreitos que buscam o ocaso
Das tardes vibrantes em gradação
Do sol reluzente que não por acaso

Me leva a você da janela poente
Aquecendo-me a luz do distante arrebol
Tocando-me em verso o meu ocidente
Vez em quando a saudade é pôr-do-sol.
 


CRIAÇÃO DO POEMA JANELA POENTE



No meu processo de criação existe algo extremamente necessário: A Inspiração. Não dá pra criar quando eu quero e sim quando a obra quer surgir. Deixando esse papo filosófico de lado, eu só crio quando estou inspirado. Mas o que significa estar inspirado, ou melhor, o que é inspiração?
Vamos analisar um pouco o significado disso. De início, pra facilitar, vamos lembrar do nosso mecanismo de respiração. Existe a inspiração e a espiração. Inspirar é quando você trás o ar para dentro dos seus pulmões e espiração seria quando expelimos esse ar, ou seja, seria o contrário. Mas o que isso tem a ver com a criação artística? Nada, mas dá para criar um paralelo. Inspiração é algo parecido, é trazer para dentro, seria então quando um indivíduo está num estado mais sensível de reflexão e percebe de modo diferenciado o mundo a sua volta, como se sua percepção fosse algum tipo de antena que capta e trás para dentro de si um turbilhão de ideias desconexas que em breve se organizarão e logo traduzirão um sentimento ou pensamento através de uma obra de arte. Sabe aquela coisa do desenho animado de aparecer uma luzinha sobre a cabeça do personagem quando ele tem uma ideia?... é por aí. Mas isso seria o que eu chamo de inspiração espontânea. Mas inspiração tem nome? Existe só esse tipo de inspiração?
Penso que existem dois tipo de inspiração: INSPIRAÇÃO ESPONTÂNEA e INSPIRAÇÃO INDUZIDA. A espontânea seria aquela que surge naturalmente e a inspiração induzida seria quando o artista precisa acionar alguns mecanismos para que ela apareça. Por exemplo: digamos que alguém me peça para escrever um poema sobre um tema específico, então porque eu preciso escrever vou procurar um meio mais suscetível para que a inspiração possa surgir, já que ela nem sempre cai do céu. Então tenho que utilizar algumas ferramentas que me sensibilizem. Para isso não existem regras, é uma busca. Talvez eu posso ouvir uma música que me toque vendo determinadas fotografias, me recordando de uma frase que alguém me disse, lendo meus poemas preferidos tomado uma xícara de xá  sozinho em silêncio, quem sabe depois deitado no chão, na cama, etc, etc... você tem que criar condições pra que a inspiração possa surgir e te dar uma ideia, isso a gente só aprende com o tempo, experimentando. Só com o tempo você vai descobrir a melhor forma de conseguir isso, de se conhecer. Por exemplo: descobri que viajando de carro ou de ônibus e olhando para as paisagens pela janela fico mais suscetível para estar nesse estado. Muitos pensamentos e sensações surgem pela inercia e o silêncio. Por causa disso ando sempre com um papel ou bloco de notas e uma caneta em mãos, porque  a inspiração não tem hora pra chegar e quando ela surge ou você registra ou perde, pois existem determinadas particularidades na inspiração que você não pode deixar pra depois, por exemplo: alguém pode pensar: ah, vou lembrar disso mais tarde. Tem certas ideias que estão intimamente atreladas a sensações e é isso que temos que entender. Sem as sensações, quase sempre, elas desaparecem ou perdem o significado. De igual modo, o processo de criação deve estar intimamente ligado as emoções do artista, pois sem esse envolvimento emocional o poema ou a obra de arte não terá verdade, será fria e mecânica, o que não tem nada a ver com arte. Se alguém me perguntasse quando eu sei que um poema que escrevo está bom, eu diria: Quando ele me emociona. Escrever deve ser exatamente isso, criar deve ser exatamente isso: Libertar-se da emoção. 
Bem, mesmo se todo esse processo não funcionar, não devemos nos preocupar por que se continuarmos pensando sobre o assunto em todo tempo, quando andamos na rua, quando fazemos compras, conversando com um amigo, simplesmente pensando, sem aquele senso de cobrança de que algo precisa ser realizado, cedo ou tarde uma ideia irá surgir.
Outra coisa que ajuda bastante nesse processo de INSPIRAÇÃO INDUZIDA é o uso dos cinco sentidos: VISÃO, TATO, AUDIÇÃO, OLFATO e PALADAR. Pense a respeito do tema que você quer falar, toque coisas enquanto isso, experimente, sinta gostos, prove determinadas coisas e pense a respeito do sabor sentindo os cheiros do ambiente, sinta cheiros que lhe remetam ao passado, ouça os sons a sua volta: os pássaros, o vento, folhas sendo embaladas pelo vento, veja, olhe imagens, veja detalhes que você nunca viu, procure perceber o esquecido, ou mesmo se feche em completa escuridão por um determinado tempo. Se não der certo num ambiente fechado, procure sair, tenha experiências reais, se envolva com elas sem uma visão racional, veja a vida como se você estivesse dentro de um clip musical, saia da forma convencional de ver as coisas, tudo isso irá aguçar seus sentidos e lhe garanto que alimentará sua sensibilidade lhe proporcionando ótimas ideias para a produção artística. Essas técnicas são muitos boas para a criação de poemas, mas também para as artes visuais, porém existem outros mecanismos específicos para as artes visuais de que falarei em outra oportunidade.
Para entendermos de modo prático tudo isso, vou falar como foi a criação de um dos meus poemas no qual estiveram envolvidas essas duas facetas da inspiração de que acabei de falar.
Vamos começar do inicio. Em 2005 eu saí de minha cidade de origem (Quixabeira) para estudar Artes Plásticas em Salvador. Por isso morei por lá durante quatro anos e meio. É natural que mudanças assim provoquem certos sentimentos e emoções. Um desses sentimentos é a saudade. Algo muito comum nessas circunstâncias. Sendo assim, já no meu ultimo semestre, eu estava em casa, no meu quarto, quando olhei pela janela, já no fim da tarde, e vi o pôr-do-sol. Naquele momento eu estava sentindo falta da vida simples que eu tinha em Quixabeira e percebi também que estava vendo o pôr-do-sol por uma janela com grades e que ele estava sufocado entre as dezenas de prédios ao longe e tudo isso me fez pensar em uma prisão, que a saudade era uma prisão e que no pôr-do-sol de Quixabeira traduzia liberdade, sem prédios para ofuscar o brilho, sem grades para me aprisionar nesse sentimento, então uma frase surgiu de modo espontâneo: SAUDADE É PÔR-DO-SOL. Somente essa frase surgiu espontaneamente, o restante do poema eu tive que procurar um meio de me sensibilizar para que a inspiração retornasse. Isso durou alguns dias.
A primeira coisa que fiz foi observar um arquivo de fotografias de Quixabeira, só que eu me concentrava apenas no céu e nas imagens em que o pôr-do-sol era evidente. Prestando atenção as cores, as nuvens, relembrando situações em minha vida que havia alguma relação com o tema, coisas que já havia falado a respeito,  também comparando o céu que eu costumava ver em Salvador com o céu de Quixabeira e as palavras aos poucos foram surgindo, surgindo a inspiração,  os versos, as rimas. Mas como meu vocabulário ainda se mostrava rasoável para a profundidade que eu gostaria de exprimir, profundidade que para mim traduzia a saudade, comecei a pesquisar mais sinônimos para o pôr-do-sol e tudo foi surgindo naturalmente, com a singeleza, beleza, profundidade, preciosismo, sentimento e paixão que eu gostaria de expressar.
E logo ao fim, examinando tudo que eu sentia, creio que consegui descrever exatamente o que me envolvia e me arrebatou em devaneio aquela tarde em Salvador quando olhei pela janela.
Você percebeu que alguém que escreve de forma artística não pode descrever as coisas como uma pessoa comum? É necessário encontrar um modo diferenciado e original para se expressar. Por exemplo: alguém pode pedir pra que você descreva a saudade. A pessoa comum irá dizer que saudade é sentir falta de alguma coisa ou de alguém. Isso todo mundo pode dizer, mas como um artista pode falar sobre a saudade de modo original? Foi o que procurei realizar: falar da saudade através de uma visão particular. É dessa forma que pensaremos de modo diferenciado sobre determinado assunto e que novas ideias irão surgir a respeito dele, é desse modo que surge a reflexão e o íntimo do humano é alimentado e apaziguado pela beleza que só a arte pode proporcionar e traduzir.


Um Bate Papo com Drummond

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